Um nome
- Astarte ✷
- 28 de ago.
- 4 min de leitura
Atualizado: 6 de set.

Durou menos de dois anos mas foi, certamente, o período em que mais me senti viva. Ele deu um nome para essa coisa que já existia aqui dentro e parece que depois disso essa coisa finalmente respirou. Astarte estava viva, tinha um nome. Eu estava viva, talvez por causa dela.
Não era pra ser grande coisa.
Recebi uma mensagem: "você conhece o shibari?". Começou assim. Marcamos um encontro e, no primeiro sorriso, eu sabia que estava tudo perdido.
— Tô fudida.
Era a única coisa que passava pela minha cabeça enquanto eu via ele se aproximando; um sorriso e eu já sabia que seria a minha perdição. Conversamos um pouco, trocamos um beijo e na minha cabeça luzes acendiam:
— Caralho, tô fudida. Já era. É pra valer.
No sorriso sádico que ele tinha eu já sabia que estava perdida. Eu queria me entregar. Estava morrendo de medo. Mas estava decidida a não dizer não para o prazer.
Tudo se desenrolou tão depressa, estávamos os dois com fome desse descobrir, desse permitir-se. De explorar limites. Nós conversávamos muito, sem muito pudor, mesmo que sem tanta intimidade pra isso. Sempre gostei de fazer perguntas difíceis e ele me respondia como numa partida de xadrez. Tudo era erótico. Eu, extasiada, estava totalmente disposta. Foi uma relação maravilhosa, para ser sincera. Tudo era explícito, quase vulgar, e nessa coisa crua fui me descobrindo uma putinha ainda maior do que esperava. Que delícia!
Tenho muitas memórias saborosas dessa época, não sei nem por onde começar. Acho que vou começar pelo meio, uma das minha lembranças favoritas.
Eu tinha acabado de sair do banho e ele estava no quarto me esperando. Era começo da manhã, um dia qualquer da semana em que tínhamos acordado juntos. Um dia normal pela frente. Pelo menos achei que seria.
Tirei a toalha do corpo e fiquei totalmente nua, procurando por uma roupa fresca, agradável para aquele dia ensolarado. Ele estava sentado na cama e casualmente levantou e abriu as cortinas da janela. Veio aos poucos me beijando o pescoço, falando uma putaria ou outra na orelha:
— Que vadia gostosa... Ele sussurrava enquanto segurava meu cabelo com o punho cerrado.
Foi, sem eu perceber, me levando de volta para a cama, me puxando pelos cabelos, pelos lábios, pelas ancas. Me colocou no colo, com as costas voltadas para ele, enquanto apertava meu pescoço e, aos poucos, foi descendo a mão, brincando com meus mamilos, apertando e soltando, me forçando a respirar no rítmo que ele desejasse, enquanto eu segurava pequenos gemidos de dor e prazer.
Continuou me beijando, lentamente, descendo as mãos até minha carne quente, e num movimento súbito abriu minhas pernas. Eu estava totalmente entregue, sendo tocada como uma flauta, até que sem nenhum aviso um puxão mais forte de cabelo me forçou a voltar à realidade e olhá-lo nos olhos.
— Tá gostoso, vadia?
Sorri.
— Sim, senhor.
Ele forçou minha cabeça até que eu olhasse para a janela.
— Eles também estão gostando da minha vadia.
Enquanto minha cabeça dava sentido àquelas palavras, meus olhos focavam no que estava além da janela: o prédio do outro lado da rua. Em uma janela, diretamente de frente à nossa, em um apartamento vazio, dois pintores de parede apoiados no parapeito apreciavam a paisagem. E a paisagem era eu. Meu corpo gelou.
Abri os olhos como Astarte ali, pela primeira vez, sentada de frente para a janela, no colo do meu dono, com as pernas escancaradas. Antes que eu pudesse ter qualquer reação, ele continuou. Suas mãos implacáveis, apertando, penetrando, contorcendo minhas entranhas como uma máquina. Seus dentes se afundando no meu pescoço, entre suspiros.
— Mostra pra eles como a minha vadia goza, mostra — ele dizia, sem me permitir outra resposta que não derreter absolutamente — Melhora o dia deles um pouquinho.
Enquanto ele continuava mostrando para a sua platéia que me tinha na palma das mãos, como um mágico fazendo um truque ilusionista, ele também me expunha como um troféu, a sua cadelinha adestrada. Se eu me distraísse, um puxão de cabelo ou um tapa na cara me traziam à realidade outra vez.
— De olhos abertos, vadia. Quero que você veja como eles te desejam. Mas você é só minha, ouviu? — Suas mãos continuavam, apertando, puxando e meu corpo já sem controle, tremulante, chegando ao êxtase. Eu estava entrando em pânico.
— Senhor, posso gozar? — gemi, quase inaudível, fazendo contato visual com um total desconhecido pela janela. Ele riu, deliciado com a facilidade em controlar a sua putinha.
— Ainda não, vadia.
Achei que eu ia morrer, bem ali. Me sentia à beira de um precipício, lutando contra meu próprio corpo, enquanto ele brincava com um sorriso no rosto como se eu fosse uma boneca de pano. Respirei fundo, tentando lutar contra as ondas de prazer cada vez mais intensas que dominavam meu corpo. Tentei fechar os olhos e mais um tapa, dessa vez bem forte e em cheio na vulva, me trouxe de volta. Como uma putinha totalmente dominada pelo tesão, senti lágrimas surgirem nos olhos e implorei, quase chorando, para gozar. Finalmente tive uma resposta afirmativa.
— Goza pro seu dono, Astarte.
Foi a primeira vez que ela recebeu um comando direto e eu nunca gozei tão forte. Acho que foi o primeiro orgasmo da Astarte, sem culpa, sem medo.
Nunca me senti tão gostosa como naquele dia, sendo uma putinha safada, servindo ao meu dono e sendo exibida tão vulnerável, de surpresa, totalmente entregue.
Depois daquele dia nunca mais fui a mesma. Não era apenas um jogo, nem uma cena, nem sequer um romance. Foi o nascimento de algo maior, uma presença que ficou comigo mesmo depois que ele partiu.
Astarte não morreu quando a relação acabou. Ela permaneceu, ardendo sob minha pele, como uma chama que não se apaga. Ele foi só o arauto. Eu era o altar.
Desde então, Astarte caminha comigo. Faminta, selvagem, indomada e me lembrando que, por mais que durem pouco, certos encontros são eternos.
Astarte nasceu naquele quarto e nunca mais voltou a dormir.


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